Melhora da educação pública e inclusiva passa pela valorização dos/as professores/as

Duas das principais lutas da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) são a valorização da categoria e o investimento na formação do/a professor/a no Brasil. Para especialistas, a melhora da educação pública, democrática e inclusiva, passa, inevitavelmente, por melhores condições de trabalho aos profissionais de ensino.

O/a professor/a tem papel fundamental na vida de todas as pessoas. É ele ou ela que forma todos/as os/as profissionais. Segundo o educador pernambucano, Paulo Freire (1921-1997), o papel do professor é estabelecer relações dialógicas de ensino e aprendizagem, em que o educador ao passo que ensina, também aprende.

De acordo com a secretária de Assuntos Educacionais da CNTE, Guelda Cristina de Oliveira Andrade, que é funcionária de escola e professora de formação, o/a professor/a tem a responsabilidade de promover a descoberta da leitura e da escrita nas crianças, no processo de alfabetização e de pesquisa e todo seu conhecimento.

Com isso, ressalta a dirigente, “é com o movimento político pedagógico que a gente consegue formar e construir sujeitos independentes e preparados para atuar fora da salas de aulas, compreender o papel de cidadão e cidadã e mostrar o quão importante é o papel dos profissionais da educação no ato de construir conhecimento junto com os/as estudantes”.

Mas a valorização da categoria passou bem longe do projeto de Jair Bolsonaro (PL). Os/as professores/as no Brasil têm enfrentado ao longo dos anos uma desvalorização enorme em sua profissão. Nos últimos anos, os diversos profissionais da educação ficaram ainda mais distantes de salários justos e boas condições de trabalho.

A enorme discrepância apresenta uma realidade triste e que é confirmada por dados do relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que mostram que o piso salarial dos professores brasileiros nos anos finais do ensino fundamental é o mais baixo entre 40 países avaliados em um estudo divulgado em setembro de 2021.

Além da desvalorização dos educadores, o levantamento da Moderna, do Grupo Santillana, aponta que apenas no ensino fundamental, 29,54% dos professores dizem que a falta de infraestrutura e de recursos é o maior desafio na rede pública.

Segundo o presidente da CNTE, Heleno Araújo, a entidade e seus sindicatos filiados defendem a valorização dos/as trabalhadores/as em educação tanto no contexto de classe social, historicamente desvalorizada em nosso País, como uma condição adequada para a melhoria da escola pública, devendo integrar as políticas sistêmicas de investimento na educação.

Para ele, isso engloba as condições de trabalho dos profissionais da educação, que representam parte importante desse objetivo, mas também de infraestrutura escolar, mecanismos de gestão democrática (que permitam a construção de projetos político-pedagógicos engajados com os anseios da comunidade), além da garantia de todos os insumos necessários ao padrão de qualidade (CAQ) reivindicado pela sociedade para a escola pública.

“Portanto, mais que ações necessárias para valorizar os profissionais das escolas públicas, o piso, a carreira e a jornada com período extraclasse, além da formação profissional e das condições apropriadas de trabalho, constituem direito dos estudantes e da sociedade em geral à educação pública de qualidade”, destacou Heleno em uma artigo publicado no site da CNTE.

O bom é que ainda há esperança. Mesmo enfrentando dificuldades, os professores e as professoras reconhecem pontos positivos de lecionar na rede pública e acreditam que a pandemia resgatou o valor da escola e dos profissionais docentes.

Para 31,67% dos profissionais do Ensino Fundamental transmitir conhecimento é a maior recompensa do trabalho na rede pública. Outros 16,4% indicaram boa empregabilidade e remuneração entre as recompensas.

“Eu desejo [assim como todos/as professores/as] que a educação pública brasileira de fato seja um direito de cada cidadão e cidadã, porque educação é direito humano e social para todos, todas e todes. É o direito dessas pessoas ter acesso e permanência nas escolas garantidos e nós trabalhadores e trabalhadoras da educação básica pública do Brasil contribuímos na garantia desse direito”, afirma Heleno em uma entrevista.

Com descaso com a categoria, jovens não querem ingressar na área

Segundo a projeção divulgada pela Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação ( Instituto Semesp) vai ter um apagão de professores/as e faltarão 235 mil docentes nas escolas do país até 2040.

projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é que, em 2040, o Brasil tenha cerca de 40 milhões de jovens nessa faixa etária. Para manter a proporção atual de professores e alunos, seria necessário ter 1,97 milhão de docentes. No entanto, o estudo projeta, a partir das taxas observadas até 2021, que o país chegue a esse momento com apenas 1,74 milhão de professores.

Entre os fatores que levam ao afastamento dos jovens da carreira de professor, o estudo destaca a baixa remuneração. Em 2020, os professores do ensino médio recebiam, em média, R$ 5,4 mil por mês, representando 82% da renda média das pessoas empregadas com ensino superior (R$ 6,5 mil).

Além disso, o estudo aponta para o abandono da profissão devido às condições de trabalho precárias, como infraestrutura ruim de algumas escolas, falta de equipamentos e materiais de apoio, violência na sala de aula e problemas de saúde, agravados com a pandemia de covid-19″.

“Nós costumamos dizer que a educação de qualidade vai ser atendida através de um tripé que são: financiamento, para termos uma carreira atraente, gestão democrática, com participação da comunidade escolar no processo pedagógico da escola, nos projetos e na eleição de direção, e valorização profissional, com bons salários, carreira e valorização do trabalho do professor”, destaca o secretário de Relações Internacionais da CNTE, Roberto Leão em uma entrevista para CNTE.

Fonte: CNTE

Aplb

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