Em meio à alta de casos e óbitos pela Covid-19, a maioria dos responsáveis por estudantes matriculados nas redes pública e particular é contrária ao retorno das aulas presenciais, aponta pesquisa A TARDE/Potencial Inteligência, realizada entre os dias 11 e 18 de fevereiro.
Do total de entrevistados, 58,3% afirmaram ser contra a volta das atividades nas escolas, enquanto 37,4% se posicionaram a favor. Não souberam ou quiseram responder 4,3% das pessoas ouvidas.
O maior percentual contrário ao retorno das aulas presenciais foi encontrado entre os responsáveis por alunos de escolas públicas municipais – 60,6% se posicionaram contra os estudantes voltarem às salas. São alunos, em geral, mais jovens, já que as escolas municipais são praticamente as responsáveis pela creche/pré-escola, além do ensino fundamental. Em algumas cidades, sobretudo com menor infraestrutura, a rede estadual também atende a esse público.
Diretor da Potencial, o estatístico Zeca Martins destaca, porém, que o resultado é o mesmo, independentemente do estabelecimento de ensino ser da rede pública ou privada. Entre os responsáveis por alunos da rede estadual, 54,8% afirmaram não concordar com a volta das aulas presenciais. Na rede particular, o percentual foi de 54,3%. “Na margem amostral, estamos falando de um mesmo resultado. Praticamente não existe grande diferença na opinião desses familiares”, afirma.
“Nós vivemos um momento bastante atípico, o que não é novidade para ninguém, com a pandemia e todos na incerteza de quando teremos efetivamente essa imunização. Acho que essa pesquisa tem um cunho social e até mesmo filosófico. Schopenhauer faz uma menção muito relevante, de que, para a maioria dos homens, a vida não é nada mais do que um combate perpétuo pela sobrevivência”, avalia Renê Pimentel, diretor da Potencial, ao comentar o resultado da pesquisa.
Se o resultado é o mesmo independentemente do tipo de escola, o levantamento revela diferenças em relação à região do estado ou à faixa de renda.
Em Salvador e Região Metropolitana, há uma tendência maior dos responsáveis se colocarem contra a volta das aulas presenciais – com percentuais de 62% e 65%, respectivamente. Já no interior, 54% disseram não querer o retorno das atividades nas escolas.
A diferença mais expressiva é encontrada quando se analisa o aspecto socioeconômico – quanto maior a renda, maior o apoio ao retorno dos estudantes para as salas de aula. Entre aqueles que ganham até dois salários mínimos, 35% foram a favor da volta às aulas presenciais. No grupo que recebe entre dois e cinco salários mínimos, a medida teve o apoio de 42,9%. Já entre quem tem renda acima de cinco salários mínimos, 52,2% defenderam o retorno das atividades nos estabelecimentos de ensino.
O dado pode refletir, na opinião de Martins, a crença de que, “teoricamente, as escolas particulares estão um pouco à frente das públicas, até pela autonomia que têm”, em termos de infraestrutura para lidar com a nova realidade e os protocolos sanitários. “As condições das unidades escolares públicas, sejam estaduais ou municipais, ainda levarão algum tempo para se adaptar a esta nova realidade do ensino híbrido, que vai ser provavelmente a tendência daqui para a frente”, acrescenta Pimentel, mestre em Administração e ex-conselheiro da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado Opinião e Mídia (ASBPM).
Foi verificada também a dificuldade maior para acompanhar aulas virtuais a depender do grupo social. Entre aqueles cujos filhos estão matriculados em escolas particulares, somente 11% disseram que não há condição nenhuma de ter aula online em casa. O número sobe para 18,3% na escola pública estadual e 23,7% na escola pública municipal (geralmente associada aos alunos mais jovens).
A Potencial ainda questionou aos entrevistados se enviariam seus filhos à escola caso as aulas fossem retomadas em março. Responderam “não” 48,5% e “sim”, 38%. Martins nota a diferença percentual menor, se comparada à primeira pergunta, relativa a ser favorável ou contrário ao retorno das aulas. Dessa vez, o número de indecisos é maior: 13,5% responderam que talvez mandassem os filhos para as aulas presenciais.
Para os sócios da Potencial, o fenômeno pode ser explicado por inúmeros aspectos. “Acredito em alguns aspectos. Por exemplo: a família não ter estrutura para ficar com as crianças em casa por muito tempo. Na escola pública você vai encontrar alimentação, e há também a questão da socialização”, afirma Martins. “Muitos pais estão deixando de trabalhar para ficar com seus filhos em casa. Tem a questão sócio-emocional, mas acho que entra também uma questão econômica. Esse fenômeno não é simples, precisamos ter cuidado na interpretação, porque as pessoas estão abaladas com a incerteza, questões financeiras, mortes. A sociedade não vive um momento sereno”, diz Pimentel.
A pesquisa foi realizada com uma amostra da população de responsáveis por estudantes de 4 a 18 anos matriculados nas redes de ensino pública e particular. O nível de confiança é de 95% e a margem de erro amostral, de 3,73 pontos percentuais. Foram realizadas 690 entrevistas por telefone. Fizeram parte da amostra 37 municípios, entre os quais as 17 cidades com mais de 100 mil habitantes e os demais por sorteio.
FONTE: APLB SINDICATO