Um estudo realizado no Brasil antes e durante a pandemia pela Unicef, em parceria com o Instituto Claro, com produção do Cenpec Educação, revelou que, em 2020, 5,5 milhões de crianças e adolescentes não tiveram atividade escolar. A pesquisa “Enfrentamento da cultura do fracasso escolar” trouxe também dados alarmantes de 2019, como por exemplo o de que o número de estudantes reprovados nesse ano chegou a 2,1 milhões, mais de 6 milhões estavam em distorção idade-série e cerca de 620 mil abandonaram o ensino. Infelizmente, o perfil dos alunos que compõem esses números já é bem conhecido: encontram-se, principalmente, nas regiões Norte e Nordeste do país, na maioria das vezes são negros, indígenas ou possuem alguma deficiência.
De acordo com a Unicef, a reprovação, o abandono escolar e a distorção idade-série fazem parte de um mesmo problema: o fracasso escolar. Esse problema começa com o estudante sendo reprovado uma vez, depois outras reprovações, abandono, tentativa de retorno às aulas e em determinado momento o estudante entra em uma situação de “distorção idade-série” acompanhado de dois, ou mais, anos de atraso
Um dos meios de reverter esse cenário de fracasso escolar é conhecê-lo bem. O estudo realizado pela Unicef possui esse objetivo, que faz parte da estratégia Trajetória de Sucesso Escolar, também iniciado pela instituição.
Além das informações citadas acima, a Unicef, juntamente da Instituição Claro e parcerias, trouxe também dados como:
Aprendizagem na pandemia
Antes do surgimento do novo coronavírus a desigualdade no Brasil já era uma preocupação. Com a pandemia de Covid-19 esse cenário se tornou ainda mais grave. Das crianças e adolescentes, com idade entre 6 a 17 anos, 3,8% (1,38 milhão) não frequentavam mais a escola, remota ou presencial, em outubro de 2020. No ano anterior a média de abandono escolar era de 2%, segundo a Pnad Contínua. Segundo a pesquisa, 4,12 milhões de estudantes diziam frequentar a escola e não receber nenhuma atividade escolar. É estimado que 5,5 milhões de crianças e adolescentes tiveram seu direito à educação negado em 2020 devido à situação do momento.
Os estudos revelam que os estudantes que não conseguiram manter o aprendizado com a pandemia possuem o mesmo perfil daqueles que já sofriam com a desigualdade. Percebe-se que os percentuais mais altos de estudantes que não conseguiram realizar atividades escolares na pandemia se concentram na região Norte, com o dobro da média nacional. Em relação a negros e indígenas, esses também tiveram menos acesso à aprendizagem que brancos.
Reprovação escolar
No ano de 2019, o número de estudantes reprovados no Brasil foi de 2,1 milhões. Nos últimos anos, antes da pandemia, o país vinha apresentando uma pequena queda no número de reprovações.
A reprovação no Norte brasileiro foi maior que na região Sudeste. A desigualdade se instala não só na região, mas também na raça. A população preta teve um índice de reprovação de 10,8% e a indígena 10,9%, enquanto a população branca 5,9%. Para os estudantes com deficiência os números se tornam mais expressivos, tendo 11,5% reprovados em 2019.
Abandono escolar
Com relação ao abandono escolar, no ano de 2019, 623 mil estudantes abandonaram a escola. A região Norte do Brasil é a que concentra maiores taxas de abandono, representando 4,4%. Também de forma desigual, a taxa de abandono atinge principalmente crianças e adolescentes pardos (2,6%), pretos e indígenas (5,3%), enquanto a taxa de abandono por partes de brancos chega a 1,4%.
Distorção idade-série
No ano de 2020, dois em cada dez estudantes no Brasil estavam em distorção idade-série, cerca de 6 milhões de crianças e adolescentes. Assim como nas taxas de reprovação e abandono, as regiões do país mais afetadas são o Norte e Nordeste, com 29% e 27,6%, respectivamente. A distorção idade-série atinge de forma desigual cor/raça e deficiência. Os indígenas são os estudantes que mais sofrem com a distorção idade-série, seguidos por negros (29,6%) e pardos (23,9%). Para estudantes com algum tipo de deficiência, a distorção atinge 46,8%.
Como reverter esse cenário
Um dos meios de mudar tal realidade é através da ação conjunta entre governo, sociedade e comunidade escolar. É preciso conhecer bem o problema, debatê-lo em sua diversidade e enfrentar a cultura do fracasso escolar. Pensando em contribuir para esse enfrentamento, a Unicef e o Instituto Claro são parceiros de duas iniciativas. A primeira, Trajetórias de Sucesso Escolar, contribui para a formação de políticas educacionais voltadas para estudantes em distorção idade-série. A segunda iniciativa da qual os institutos são parceiros é Um Milhão de Oportunidades que, em parceria com outras organizações, une esforços para gerar oportunidades de aprendizagem e acesso ao mundo de trabalho para jovens e adolescentes em situação de vulnerabilidade.