Ensino remoto poderia ter evitado mortes de professores, mostram estudos

 

Um levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos ( Dieese ) aponta que profissionais da educação ultrapassaram médicos e enfermeiros na lista de mortes por Covid-19 no Brasil . No primeiro trimestre de 2021, segundo a pesquisa, 961 professores foram a óbito com a doença, um crescimento de 106% se comparado ao três meses anteriores.

Os dados são equiparados a outro levantamento, desta vez realizado pela Rede Escola Pública e Universidade, que aponta que teria sido possível salvar vidas de profissionais se houvesse maior investimento em ensino via internet .

Diretor de uma escola em Brasília, no Distrito Federal, Adelmo Boaventura Filho precisou manter os atendimentos presenciais no colégio para orientar pais e alunos. Em uma das visitas, foi contaminado pela Covid-19 .

“Peguei Covid em outubro ou novembro. No meu caso, peguei porque eu estava trabalhando na escola em atendimento às famílias, aos pais que iam pegar material impresso. Ficamos expostos mais por isso”, conta.

“Um segurança da escola também pegou Covid trabalhando. Essa exposição fez com que pegássemos o coronavírus, porque estamos na linha de frente. Mesmo com Face Shields, material para gente se proteger, pegamos a doença”, completa o professor.

Situação parecida da professora Maria Auxiliadora. Além de ter contraído a doença duas vezes, viu seu marido passar mais de uma semana internado.

“Tínhamos que ir para escola para resolver as questões e nessas idas e vindas eu peguei. A primeira vez, transmiti para o meu marido e ele ficou internado mais de 10 dias na UTI . Passei para a minha vice-diretora, que passou para o marido que passou para filha. Foi uma confusão. Nós não podíamos ficar em casa por conta da responsabilidade e do compromisso que temos com a escola”, lembra.

O diretor da Ambra University, Alfredo Freitas, ressalta os altos números de contágio no setor educacional e lembra que o ensino remoto poderia ter salvo vidas de profissionais.

“Tivemos um alto número de mortes por Covid-19 em profissionais da educação que poderiam ter sido evitadas com o ensino remoto. Em alguns casos, encontramos até maior facilidade no aprendizado, principalmente para alunos de ensino médio e superior”, afirma.

Adaptação

Uma pesquisa feita pela Fundação Lemann mostra que 83% dos professores se adaptaram ao ensino remoto . Na opinião de Alfredo Freitas, embora o contato humano seja necessário para o ensino, a digitalização é uma realidade e poderá cativar a atenção de alunos.

“Esse contato humano pode ser feito via internet e de forma que a instituição assuma a responsabilidade de criar um processo de ensino estruturado, de ter soluções tecnológicas adequadas e ter uma metodologia de ensino de internet”, explica.

Da mesma opinião compartilha o professor Adelmo Boaventura, do DF. Ele lembra ter cumprido os protocolos de segurança para a Covid-19, mas ainda assim contraiu o vírus.

“Não teria pegado se o material fosse fornecido digitalmente, nós pegamos mais porque estávamos expostos a contato com as pessoas e com o material que vem da casa das pessoas”.

Espera por vacina

O professor ressalta a importância do ensino presencial, mas lembra que essa possibilidade só poderá ser efetivada com a vacinação em massa de profissionais e alunos .

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“Sou a favor que as pessoas sejam vacinadas para irem trabalhar, seja professores de escola pública ou particular. Acho temerário expor os professores nessa condição de dar aula presencial , mesmo com redução de aluno, porque é complicado você pegar uma criança, um adolescente e você evitar que eles tenham contato um com o outro, que eles conversem próximos, que usem máscaras, eu acho difícil esse controle nas escolas”.

Embora haja expectativa sobre a vacinação de professores em diversos estados, sindicatos e servidores reclamam do atraso para destinar as doses. A situação ficou pior após a paralisação das produções devido à falta de insumos.

“Não tem como a gente voltar sem a vacina, isso é fato. Acho que não é nem por questão presencial, mas por saúde e vidas”, diz Maria Auxiliadora.

Aplb

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