4º Congresso Nacional: A classe trabalhadora é a força motriz do nosso país, diz Adilson Araújo

O presidente nacional da CTB, Adilson Araújo, 49 anos, está à frente da entidade em uma das conjunturas mais difíceis de seus (quase) dez anos de história. Nesta entrevista, ele fala do 4º Congresso Nacional em Salvador, do movimento sindical e faz um análise da brutal ofensiva conservadora e da forte resistência em defesa da democracia e dos direitos sociais e trabalhistas.

Um dos fundadores da CTB, Adilson Araújo é baiano de coração, bancário do Itaú-Unibanco e iniciou sua militância sindical e política no final da década de 1980. É dirigente do Sindicato dos Bancários da Bahia e esteve à frente da direção da CTB Bahia entre 2008 e 2013. Na esfera política institucional foi presidente do Conselho Estadual de Trabalho e Renda da Bahia (CETER-BA) e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), no governo Dilma Rousseff.

Leia abaixo os principais trechos:

Visão Classista: O Brasil vive uma onda de mudanças sociais e culturais singular. Como avalia esse período?

Adilson Araújo: A CTB atravessou nos últimos 10 anos muitas etapas da luta política e econômica nacional. Testemunhamos avanços históricos, que remodelaram o cenário social e reposicionaram o Brasil no mundo. Não podemos negar os ganhos advindo com a criação de programas como Minha Casa Minha Vida, Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), fortalecimento do BNDES e da Petrobras, política de aumento real do salário mínimo, Bolsa Família, Mais Médicos e Plano Safra. E não podemos esquecer que graças ao Prouni, Fies, Pronatec, Ciência Sem Fronteiras e as políticas afirmativas o país viveu uma verdadeira revolução no cenário sociocultural. Esses programas são ações iniciais para uma grande mudança social, que não tem outro caminho senão a implementação das reformas estruturais (Agrária, Tributária, Urbana, Educação) e democráticas (Mídia, Política). E tais programas garantiram a inclusão de milhões de brasileiros no mercado de trabalho e nas universidades, a remoção de outros tantos da linha da pobreza e miséria extrema e o fortalecimento do sentimento de pertencimento do nosso povo, com soberania e crença em um futuro de crescimento como nação.

E como foi a atuação da CTB nestes anos?

Acompanhamos de perto sem nunca perder de vista nosso papel no campo da luta sindical, social e política. Ao mesmo tempo que enfrentamos nossa luta em defesa de melhores condições de trabalho e pela consolidação de um sindicalismo classista, nos posicionamos frente à agenda nacional. Exemplo disso, foi a nossa luta em defesa do pré-sal, lutando para que a riqueza retirada dele fosse aplicada na Educação e Saúde de nosso povo. Ainda dentro desta luta, destaco a participação da CTB na defesa da retomada do crescimento, com o fortalecimento do setor produtivo nacional, da Petrobras e no fomento da Política de Conteúdo Local. Dentro dessa defesa de um projeto de retomada, precisamos salientar a política do aumento do salário mínimo, uma iniciativa que inaugurou uma verdadeira revolução no país, com a transferência real de renda para as mãos da classe trabalhadora e, por consequência, gerando aquecimento do mercado interno. Foi uma fase em que o país viveu avanços. Sim. É preciso destacar que, ainda que acanhada, a política econômica de redução dos juros, seja na gestão Lula e maior na gestão Dilma, somada aos índices de quase pleno emprego e inflação na meta foi também fundamental para muitos avanços. Mas, nós queríamos mais. E dentro disto, esteve no centro a defesa de uma reforma tributária e o fim da receita Superávit + câmbio valorizado, uma dupla que sempre emperrou a aceleração do nosso crescimento. Esses são apenas alguns pontos de um grande projeto que, ainda que tenha falhas, promoveu uma mudança política, econômica e social sinalizando que era sim possível crescer sem excluir.

Desde 2014, o país atravessa forte ofensiva do campo conservador. Como é dirigir uma central num período tão hostil à classe trabalhadora?

O cenário é de terra arrasada, mas a resistência nunca esmoreceu e a CTB esteve e está na linha de frente do enfrentamento dessa luta. É preciso voltar mais um pouco nesta análise, pois há fatores fundamentais para o avanço do campo conservador. Primeiro, no campo econômico, quando a presidenta Dilma enfrenta o sistema financeiro, reduzindo os juros a patamares históricos – 7,25% ao ano, o menor patamar da história – e o aprofundamento das desonerações; segundo, a campanha difamatória da mídia que insuflou o movimento “Não Vai Ter Copa”, desembocando nas chamadas “Jornadas de Junho”. Esse cenário garantiu a base necessária para o avanço do golpe de 2016, que tem como principal consequência a destruição dos direitos sociais e trabalhistas. É o nosso povo quem está pagando a conta mais uma vez.

Qual o efeito do golpe de 2016?

Todas as conquistas que destacamos acima estão sendo destruídas, uma a uma, por Michel Temer desde 11 de maio de 2016. E a maior expressão disso são as aprovações da PEC 55 – que corta os investimentos públicos em setores estratégicos como Saúde e Educação e acaba com os programas sociais – e da reforma trabalhista – que rasga a CLT, condena a classe trabalhadora a aceitar condições de trabalho análogas à escravidão e põe fim ao direito constitucional à Justiça do Trabalho. E temos agora a ameaça de reforma da Previdência, que pode colocar um fim no maior programa de distribuição de renda do nosso país e acabar com o sonho da aposentadoria.

Em dezembro a CTB completa 10 anos e tem em sua marca a luta unitária no campo e na cidade. Como avalia o papel da central?

O momento é de balanço, de uma atualização da conjuntura internacional e nacional, além de pensar a CTB para os próximos 10 anos. De forma muito particular, o resultado é extremamente positivo. A CTB tem impresso em seu DNA a compreensão de que o movimento sindical é dinâmico e por isso precisa de soluções dinâmicas, que tenham como fonte o conjunto amplo das forças: dos trabalhadores e das trabalhadoras urbanos, rurais, marítimos, do setor metal/ mecânico, entre outras tantas categorias. E a unidade é uma marca de sua atuação tanto na base como nas lutas mais amplas. Desta forma, fica clara disposição da nossa Central de fortalecer cada vez mais a unidade e os laços de solidariedade entre a classe trabalhadora, e evidentemente isso traz uma nova perspectiva, porque atravessamos uma etapa, na qual nos consolidamos como uma das centrais sindicais que mais cresce no país.

Como a CTB se posiciona hoje no mapa nacional do movimento sindical?

Temos mais de 1200 sindicatos filiados (sendo que desses mais de 700 já estão reconhecidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego) e representamos cerca de 10 milhões de trabalhadores e trabalhadoras. Alcançamos o sonho da sede própria e da criação da nossa Escola Nacional. E no âmbito dos estados, graças a iniciativas como o Projeto Coral, ampliamos e reforçamos a presença da Central em todas as regiões do Brasil. Aqui também destaco a criação do Passi (Posto Avançado de Ação Sindical, Social e Institucional), em Brasília, o que não só nos estruturou como também reforçou nossa atuação nas lutas dentro do Congresso Nacional. Outro setor fundamental para a CTB é o da Comunicação, que ganhou ampla atenção por sua natureza estratégica. Nos últimos 4 anos, reforçamos os investimentos, com ampliação do quadro de profissionais e modernização dos equipamentos, o que garantiu a criação do Jornal Olho Crítico, impresso mensalmente, com tiragem de 200 mil; modernização do nosso Portal na internet e ampliação de nossa presença nas redes sociais; a criação das revistas Rebele-se e Mulher de Classe, e o fortalecimento da nossa revista Visão Classista. Isso sem falar nas publicações especiais, como cartilhas e notas técnicas. Tudo isso comprova que trabalhamos incansavelmente, para consolidar a presença da CTB no debate e nos espaços de decisão em todo o país.

Há avanços em todas as áreas de atuação da Central, entre elas, o campo internacional. Qual o balanço que faz desse setor?

Saímos do 3º Congresso, em 2013, com um objetivo: posicionar a CTB na luta internacionalista. Para isso, essa gestão, desenvolveu um projeto que tem por centro um sindicalismo de classe anti-imperialista, de unidade de ação em nível internacional. Como resultado desse projeto, ampliamos, por exemplo, nosso protagonismo nas articulações institucionais na Federação Sindical Mundial (FSM), que no seu 17º congresso, realizado na África do Sul, em 2016, elegeu Divanilton Pereira, secretário e Relações Internacionais, para o secretariado executivo da entidade. Outro momento importante foi a realização, em 2015, do simpósio mundial alusivo aos 70 anos da FSM. Uma conquista política que aglutinou em São Paulo 126 organizações sindicais oriundas de 44 países. Em nível mais global, integramos o BRICS sindical (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Diante dos ganhos e para reforçamos nosso projeto nestes espaços, criamos o Boletim Internacional da CTB, impresso e digital, em três idiomas (Inglês, Francês e Espanhol). E na América Latina? Em relação à geopolítica, reforçamos o nosso pertencimento latino e caribenho, estreitando relações com o sindicalismo cubano e uruguaio. Destaco nossa presença no Encontro Sindical Nossa América (ESNA), importante frente política regional e na qual fomos decisivos para sua fundação. Além disso, integramos a cúpula social da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA) e participamos das agendas da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Criamos também um núcleo especial para pensar e qualificar a nossa presença nas Conferências Internacionais do Trabalho (OIT).

E o que esperar para a próxima etapa?

Como afirmei em 2013, nosso time está em campo e continuaremos jogando sem perder de vista o horizonte de um projeto que tenha por centro o crescimento, a geração de emprego, a valorização do trabalho, a defesa da soberania, da autodeterminação dos povos e da democracia, a distribuição da renda e o combate à pobreza. Muito já foi feito, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. Os efeitos do golpe batem à nossa porta e precisamos ter tática e estratégia para enfrentar o que vem por aí.

Qual sua expectativa para o Congresso Nacional da CTB?

Este é o momento de passar em revista e de pensar uma ação mais planejada, que fortaleça a CTB e o movimento sindical no Brasil. Para este novo momento e cientes de nosso papel na luta sindical e política, me parece que se torna fundamental aprofundarmos teórica e estruturalmente nosso plano de ação. E, como estamos convencidos de que é possível enfrentar o momento e desatar os nós, vamos fazer a opção de canalizar todos os esforços para uma ação propositiva e de vanguarda. Entendemos que a melhor alternativa para a CTB e o conjunto da classe trabalhadora é caminhar unida, para garantir o enfrentamento da agenda regressiva, barrar o retrocesso liderado hoje por Michel Temer e construir caminhos para a retomada dos direitos vilipendiados. Não esqueçamos, é a classe trabalhadora a força-motriz da nação e é ela que possui a autoridade moral para dizer qual o melhor caminho para o nosso país. Vai ter luta!

Por Joanne Mota

Fonte: CTB

Aplb

28 comentários em “4º Congresso Nacional: A classe trabalhadora é a força motriz do nosso país, diz Adilson Araújo

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